Enxaqueca Crónica e Botox: Uma Combinação Improvável
A enxaqueca crónica é uma doença neurológica que afeta entre 1,4% a 2,2% da população mundial. É mais prevalente do que a diabetes e a asma juntas. Diferencia-se da enxaqueca episódica pelo perfil de doença mais debilitante – maior frequência dos episódios e maior prevalência de ansiedade e depressão.
A enxaqueca crónica é definida pela persistência dos sintomas em 15 ou mais dias por mês durante mais de 3 meses. É extremamente debilitante e penalizadora do ponto de vista laboral. A prevalência mundial da enxaqueca crónica é estimada entre 13% a 17% nas mulheres e entre 8% a 14% nos homens (resultados baseados numa meta-análise internacional com dados recolhidos entre 1962 e 1992).
A prevalência mais alta regista-se entre os 35 e os 45 anos de idade, em caucasianos e na população de menor poder económico. Antes da puberdade, a prevalência é igual nos dois sexos, alterando-se a partir dessa altura, com a proporção a ser mais desfavorável para as mulheres, que passam a ter um risco duas vezes mais elevado do que os homens.
Na população feminina, cerca de 60% das pacientes experienciam uma crise grave por mês e 42% do grupo das mulheres afetadas registam pelo menos 4 crises graves mensais.
A cefaleia é geralmente acompanhada por náuseas e vómitos, sintomas vasomotores (suores), fotofobia e fonofobia. Um terço dos doentes não responde à terapêutica padrão.
Em 2010, o uso da toxina botulínica foi aprovado para o tratamento da enxaqueca crónica. O princípio da intervenção com a toxina passa pela redução temporária da contração muscular durante um período de 3 meses, ou seja, causa a paralisia muscular, impedindo a libertação de neurotransmissores (ACTH).
O sucesso terapêutico confirma a presença de pontos gatilho suspeitos e é definido como a redução de pelo menos 50% na intensidade ou frequência das enxaquecas em 4 semanas. A melhoria sintomática decorrente da injeção em um ponto pode desmascarar outros pontos gatilho.
Quanto maior a frequência da enxaqueca, melhor será a resposta ao tratamento com a toxina. O tratamento dura cerca de 20 minutos e envolve tipicamente 31 pontos de injeção em 7 áreas específicas. Ao longo de um ano, é normal que o tratamento seja repetido 4 vezes.
Em alguns pacientes com resposta clínica positiva à toxina, pode-se equacionar a descompressão cirúrgica do nervo:
- Nervos supraorbitário e supratroclear (ramos terminais do oftálmico V1) – enxaqueca frontal
- Nervo zigomaticotemporal (ramo terminal da divisão maxilar V2) – enxaqueca temporal
- Nervo grande occipital (ramo interno do primeiro ramo dorsal do 2º nervo espinhal cervical) – enxaqueca occipital
- Ramos paranasais do trigémio (desvio de septo nasal, esporões ósseos, concha bulhosa, hipertrofia dos cornetos) – enxaqueca retroorbitária.
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